Carnide e a envolvente na história

Entre Carnide e a Pontinha, na Estrada da Correia, ainda existe uma antiga quinta, a Quinta do Bom Nome, que assim se chama desde 1720, pois era anteriormente conhecida por Quinta do Sarmento.

Ali existia a Capela de N. S.ª das Mercês, enriquecida por um quadro de Pedro Alexandrino. Em 1758 viviam lá apenas duas pessoas . Mas, a mais nobre, frequentada e documentada quinta desta região, que não tinha fronteiras até meados do século XIX, é a dos Falcões, baptizada de Quinta da Boa Vista pelo seu fundador, João Coelho, no século XVII. Ali se viveram histórias reveladoras da vida quotidiana da exígua população local, desde a sua fundação até, pelo menos, finais do século XIX. É, pois, a primeira de uma série de quintas locais de que vamos dar a conhecer a informação disponível, tratada por alguns dos nossos mais notáveis estudiosos olisiponenses, tais como Augusto Vieira da Silva, Júlio de Castilho, Gabriel Pereira e José Baptista Pereira. Este último, descreve assim, em 1895, o contexto em que a Quinta dos Falcões estava inserida em finais do século XIX:
“Em pouco elevado oiteiro, ao poente de Carnide, fica uma quinta, hoje conhecida pelo mais modesto de cazal, que foi habitada por distincta e numerosa família, e cujos descendentes a abandonaram, há muito, a arrendatários que a usufruem e estragam, como é seu costume.
A caza, de nobre apparencia e de tão sólida construcção que tem podido resistir aos embates de quasi três séculos, e sobre tudo, à falta de cuidados e reparos, a caza, digo, ainda lá se ergue no cimo do humilde oiteiro, d’onde se descobre vasto e mui aprasivel panorama. Fica-lhe ao nascente a povoação, boiando em mar de verdura, ao sul os montes e vales de Bemfica, e, na sua parte mais elevada, os cyprestes esguios do cemitério das duas freguesias limitrophes de Carnide e Bemfica, para o poente a Porcalhota, e ao norte os altos montes, em cujo sopé fica o encantador valle da Payan.
Por defronte corre-lhe, hoje, a estrada militar, tendo a cavalleiro um pequeno forte de terra, como a arte da guerra hodierna prescreve em edificações d’esse genero depois da invenção das poderosas machinas a que não podem resistir as mais sólidas muralhas” .
Comentário de Julio de Castilho sobre Carnide
Quem chega ao fim do largo de Carnide, e espraia a vista para o poente, vê a meio quarto de légua, sobre um oiteiro d’onde se descortina lindissimo scenario, uma casa grande, isolada, largamente recostada no alto do cabeço, e interessante no seu todo desmantelado e funebre. É ainda senhoril e grandioso aquelle conjunto arruinado.”

Júlio de Castilho

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