.
Tenho a caixa do correio cheia
De cartas endossadas a mim
Pressinto cartas de Amor
Cheias de Lengalengas sem fim
Serão corações destroçados
Que pedem ajuda a mim?
Ou jogos de sedução?
Que me ferem o coração.
Acabo com as rimas e perante a expansão de sentimentos que povoam a minha existência
Deleito-me com a música dos sentidos que me encanta e faz sonhar.
O espelho que me enfrenta. Convida-me a olhá-lo.
Olho-o longamente. E ele sentindo-se admirado, reflecte agradecido a minha imagem.
Imagem que faz o sol perder a sua intensidade.
E perante tal vaidade. O espelho perde o seu brilho.
A chuva grossa cede o lugar ao sol. Sol esse que teima em brilhar.
Os vultos dos vizinhos encharcados regressam agora a casa.
O Sol ganhou o seu espaço.
E a chuva perante tal embaraço. Curva-se e saí solitária.
A secretária onde estou sentado, escrevendo ou mordiscando o lápis.
Deixa resplandecer o glamour da sua madeira.
Nervuras que se entrelaçam causando-me tonturas.
Sou um narcisista que teima em brilhar.
Velho relógio de parede que já perdeu o seu encanto.
Por vezes olho ao espelho e sinto que tenho a configuração de um rafeiro.
Sem pélo e sem brilho, animal errante e vagabundo.
Que perante a chuva rebola na lama que o deixa imundo.
Os carniceiros do tempo já há muito me alcançaram.
E perante tanto desgaste. Sou um ser tonto que teima em não tombar.
Narciso egoísta, que resiste ao tempo.
O fedor do meu cadáver pútrido é chicoteado pela idade.
E perante tal vaidade, que me oculta a verdade.
Olho para mim ao espelho. Pisco o olho a mim próprio
E refilo para mim mesmo.
Recolhe-te no mausoléu do príncipe! Ser enervante e tonto.
Que teimas em não tombar.
Ponto final.
O narciso murchou, e perante os uivos que se perdem no ar.
Atacam com violência a frieza da vizinhança que nunca o quis aceitar.
@BomNorte2010
Comentários