Chego à rua e olho à minha volta
O parquímetro não está no seu lugar?
Não interessa. Sou gente que mente. Por isso pago no meu imaginário
Nono andar. Sem elevador para me levar!
Subo a escada passo a passo e acelero o passo.
Tenho uma perna torta de tanto degrau galgar
Subi até ao último, bati à porta
Abriram a porta. Era uma gorda canhota, vesga e de boca torta
Levo a mão à boca.
Reparei que me tinha enganado no prédio
Não faz mal.
Desço as escadas ao pé-coxinho
Mais piso menos piso nada mais me pode correr mal
Mesmo a cair desço do nono andar e só paro no quarto andar
Piso bom para descansar
Pego no telemóvel que não pára de tocar
Olá. Vim para te ver. Moras no nono andar!
Não estás? O prédio caiu!
Não interessa não faz mal
A minha boca sabe a pó de cimento
Olho a volta e o prédio não está no seu lugar
Ah.Ah. Que ridículo
É o que faz ser pobre. E não ser rico
Vejo um policia ao fundo da rua.
Penso que ele me pode ajudar
Ele vira-me as costas, e disfarça o olhar
Um olho no universo e o outro num autoclismo.
Caio no abismo. E refugio-me no cristianismo
Ajuda Divina. Já que a terrena só me faz mal.
Atei a corda à minha cintura tão apertada que me está a aleijar.
E os seus nós apertados querem-me trilhar a pele.
Rezo junto ao altar. Leio um livro em Verso
Olho para trás só para ver se estás no teu lugar.
não vá acontecer-te o mesmo que aconteceu ao prédio?
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