Hoje. Está muito frio E o vale coberto de flocos de neve.
A neve é linda! E o mundo ganha cor. E enche com cor quem está a acordar.
São pinturas de guerra que a neve quer recriar.
Cores que dão sonhos. Lágrimas que deslizam pelo chão.
Levo o machado na mão. Escondo-me por entre as árvores, afasto-me do teu olhar.
Ando à procura de um pinheirinho para o Natal.
Tenho uma decoração nova. Enfeites de nada, sopros do coração de pessoas sem dinheiro para o algodão.
Algodão? E o pão? São carcaças sem nada, são sopas de pessoas infelizes.
È o ar que alimenta a terra. E o meu alimento é o pão. Quero as janelas abertas e que o dinheiro seja a cor do luar.
Este mundo está de avesso. E a minha riqueza está de mal a pior.
Meu amor não sabe? Mas eu tenho os bolsos das calças rasgados. E não sei o que hei-de dar ao nosso petiz.
Sei que é loucura oferecer-lhe o Ar em vez de um carro que ande no asfalto. Mas a estrada está de avesso e o brinquedo é caro.
Tenho os meus sentidos gelados, estou magoado. Tenho despesas que não consigo pagar.
Na minha algibeira já só entra terra e ar. O dinheiro voa para os bolsos de um ladrão.
A estrada está sempre a me impedir. E o machado está carregado de sangue de um povo maltratado.
A árvore encontro, mas tenho as mãos calejadas cansadas de tanto esfregar, mendigar, estender à caridade. Tenho pavor de te cortar.
E cortar-te para quê? Não tenho enfeites para te embelezar.
Sei que sou avesso à mudança. Mas à vida tenho que pedir perdão.
Vou regressar a nossa casa com as mãos a abanar.
Mas quem me impede de partir?
È o cheiro a terra que se mistura no alcatrão. Eu encontro-me ferido e com mágoas.
Bebo água que o mundo me oferece. Bebo mais um copo maior.
Sede que não tem fim. Sede de sobrevivência.
Vida que me dá razões para desistir. È a terra do meu coração.
Por isso vou seguir, e o Pai Natal que me venha vestir.
Estou cansado e sento-me no chão. Respiro fundo e encho o meu coração de fé.
Levanto-me e continuo a minha viagem a pé.
Vou-me juntar a muitos mais.
E como diz a canção. Nós nunca estamos sós.
Caminhamos todos na direcção à terra do Pai Natal
E se ele existir? Havemos de o encontrar.
É uma história de tristeza que se cola a nós sem nós o pedirmos
Por isso alguns ficam e outros partem., forças que se medem. São barreiras que se afundam. São humanos que procuram outros iguais.
São males que nos enchem de coragem para recomeçar.
È a neve que cai. É o Natal que está para chegar.
E são estas as histórias que tu ouves e que só te apetece dizer.
Sei-te de cor. Sabes de cor o seu fim. Mas desconheces o seu princípio. São âncoras lançadas que te fixam à saudade e não te deixam naufragar.
E para todos os que sofrem um Bom Natal.
Comentários