Vem beber a madrugada. Cauteloso, antes que acorde a manhã
Encostado ao passado, vês passar ao teu lado o vento.
Sustento que há muito te abandonou. Iluminas-te pela luz das estrelas.
Mirrado o teu corpo rasgado e sujo. Botas que se abrem, e pedem misericórdia.
Entre as paredes que marcas, sujas são as tuas vestes que os teus gritos vestem.
A tua carne enrugada trava uma guerra na noite que te oferece a promessa de uma mudança.
Mãos cruzadas, aguardas a chegada de um salvador. Será que ele existe?
Perguntas ao primeiro madrugador que se cruza contigo.
Tentas dividir o teu castigo. Não medes as distâncias, Dissonância cognitiva que não serve de exemplo.
Afaste-se de mim. Por favor. São estas as conversas de amor que geralmente ouves.
Refugias-te num mundo imundo e triste. Alcoólico abusador sem nome próprio.
Estás entre os vários que povoam a cidade. Revelas-te, e sem malícia invejas o amor.
Estás chateado e em negação contigo próprio. Consumidor de álcool etílico que tempera o teu olhar.
Charlatão de ideias, privilegiado pela lei da rua. Numa rua que poderá ser a tua.
Cantor sem publico, artista criativo que vive com o seu castigo.
Rápida e trágica captura de um momento menos bom da sociedade.
Fotografia, que se transforma em manifesto, mero protesto de um momento.
Homem que me faz lembrar uma borboleta inquieta, mas que me faz sentir a sua falta.
Mas vejo marcado a minha fotografia heliográfica na calçada da vida.
Sombra que se torna cúmplice e complemento de mim próprio.
Sim. És mesmo tu. Repete-me o meu subconsciente.
Ganhei a guerra. Mas muitos ficam pelo caminho
Relembro o passado que não quero mais.
@BomNorte2010
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