Sinto que sou um passarinho enclausurado numa gaiola.
Estou empoleirado num galho que se verga, madeira apodrecida pelas lágrimas que derramo. Tenho dois poleiros dispostos lado a lado, disposição que me faz lembrar a solidão.
Enfrento a porta que me oferece ansiedade, porta que só abre para dentro desta clausura.
Antes de entrar pressenti que me esqueceria de ti
O azul do céu já há muito se escondeu dos meus olhos. O meu pensamento elabora Rotações mentais do tempo que já passou.
São movimentos oculares, fixações em busca de um recordar que não morreu.
Saudades de ti. Natureza que me deixa preso às lembranças de uma liberdade que um dia perdi.
Sinto que a liberdade circula na envolvente deste lar, mas perco a esperança.
Dou voltas sem parar, movimentos sem fim, pareço um parafuso de Arquimedes. Espanto as mágoas e penso que vivo numa mentira.
Mas torno a cair na realidade e sinto que recordo a nostalgia de um passado.
Nem o ar fresco da rua me pode refrescar. De que me serve viver esta vida de enclausura. Sinto que mesmo acreditando numa salvação sei que algo falhará pressentimento de um enclausurado.
Mas quando penso numa libertação, lançam aqui na gaiola mais dois ou três passarões.
A minha assa levanta-se, gesto de defesa que me evita agressões.
Complicações desnecessárias.
Ao menos que fosse à vez. Agora aos dois ou aos três.
A confusão está instaurada e o clima está a mudar. Nem quero falar do que poderá acontecer.
Não quero me acobardar, nem ser chamado de mariquinhas, mas dispenso troca de asinhas.
Nem me prezo a lutas. Sou um simples pinguinhas que vive na realidade obscura de uma tortura.
Rezo pelas alminhas do purgatório. Pois rezar transporta-me para longe destas guerrinhas.
Dou-me mas não me misturo. Sinto que estou impune e ficou criando uma energia que me envolve por magia.
Mestria de uma besta. Que me faz crer que sou um preso do meu quarto.
Quarto que me cria fantasia.
Sonho sem sufoco, crio uma imagem que me abre uma janela, e me faz voar, sobrevoar um passeio ladeado por vedações metálicas.
Liberto a imaginação.
O meu corpo fica, e o meu pensamento vai.
@BomNorte2010
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