Hoje a galinha Piu Piu vai visitar o leitão que a Porquinha Antónia pariu.
Saiu de casa a correr, e como o caminho era longo atravessou a nado o rio.
Quem a vê e quem a viu. Galinha corajosa, que desafiou o rio.
Mal chega à outra margem, afia o seu bico nas pedras redondas, alisa as penas por vaidade, mantendo uma pose sempre recta.
Desafia a minhoca que se desloca toda torta e desengonçada, para uma luta corpo a corpo, ou então à espada.
Como à minhoca venceu, oferece o seu troféu ao único deus que conheceu.
As pombas veneram a condição de campeã Oferecem-lhe uma aninha de irmã.
Ela é prima do galo poeta.
Sim. Do galo sem medo que escreve com o bico afiado, e esporas aguçadas. Que medo!
Primo viajado que morou em Lisboa. Pobre coitado do galo que tem asas mas não voa.
De assas abertas e satisfeita, aproveitando a aragem que lhe sopra o vento,
Aponta o bico ao sol, cria um relógio do tempo.
Pata entre pata, palmilha a floresta, desvia-se dos galhos quebradiços.
Conhece lagartos, visita os ouriços.
A terra queimada, fora seca pelo fogo.
O que era verde, tornou-se agora um deserto.
Estéril sem criação. Galinha sem cacarejar, com os ovos invisíveis E sem galo para amar.
Galinha condenada a ser servida na mesa de alguém. Mas a natureza cria milagres, e a solução logo vem.
Mal chega à aldeia esquece o frio que o dia tem, aparece a porquinha que foi mãe, rosada e feliz como convêm.
Marcha a compasso, ao lado do seu baboso marido. Porco elegante de rabo enrolado, bigode no focinho comprido.
Logo no fim do cortejo o leitãozinho acompanha o passo. Tropeça nas suas frágeis pernas, ri-se do seu embaraço.
As velhas da aldeia, assim que vêm o Leitão e o seu embaraço. Benzem-se em sintonia. Rezam o credo e escondem os olhos da confusão.
Mas rápido grito à boca cheia. Viva os porcos e longa vida para o leitão.
Esta é a vassalagem que lhe presto. Súbdita é a minha condição
E o senhor cura que fechava a porta da igreja, larga as chaves e sente a sua falta: Que lindo é o Leitão, quase o confundo com uma flor.
Ai que te agarro, ladra o cão ao osso. E o leitão perante tal confusão grunhe e com seu focinho escova o chão. Esta é a parte má da história. Tem razões para se esconder.
Parto, mas irei sentir a sua falta.
Ouço ao longe o galo Jacob que me chama, aflito canta ao frio de um dia Verão.
Cacarejo à lua que está de minguante. Mas? Ilumina a minha passagem
Tenho medo das sombras que se projectam à minha passagem.
Mas o galo continua a cantar oriento-me e caminho na direcção do cantar que me chama.
O galo até tem graça. Parado está pobre carcaça.
Linda é a sua crista que me soube enfeitiçar. Só hoje é que consegui reparar.
E da noite nasceu o dia. E a tristeza da capoeira deu lugar à alegria.
Vivam os noivos. Grita eufórica a galinha sua vizinha.
A galinha e o galo acabaram de casar.
A banda dá a música e os noivos iram dançar.
De uma Valsa bem dançada, nascem vidas como convém.
Pintainhos lindos e de penugem brilhante, enchem os olhos de brilho, acotovelam-se no calor da mãe.
Cócórócócó canta o galo Jacob. Agora sou pai, daqui a um tempo serei avó.
Bom Norte
Comentários