O rio ofereceu-me o ceptro de rei, mas continuo perdido no meio de uma plantação de milho.
Sinto necessidade de me perder, mas pressinto que estou a um passo de me libertar, estou farto de ser o rei, de estar preso ao chão.
Transporto a obra na minha mão com historias há muito escritas.
Deixei o medo no talhão que ficou lá atrás escondido.
Procuro em toda a sua extensão sinais que me possam indicar presenças estranhas ao meu ser.
O solo engole as minhas entranhas mastigando diversos caules procurando fortalecer-se. Rouba-me o ceptro da minha mão, ficando assim o nosso rei.
Tento espalhar as minhas cinzas por diversas direcções.
Mas por vezes penso que sou uma árvore que já deu frutos diferentes dos outros da minha espécie.
Sinto uma enorme dor de cabeça que me faz perder o domínio sobre a razão.
Coloco-me no meio do campo, abro os meus braços à imensidão do campo, transformou-me num espantalho, remendado e desprezado.
Avisto de um a outro lado do campo. Transformo-me na árvore da vida, e do milho que nasceu da espiga, fico corado de vergonha, vermelho é a cor que me impõem e o meu destino é ser o rei.
Viva o rei. Saúda o milheiral em uníssono. Um beijinho a todos os seres que me rodeiam. E das montanhas que me envolvem separa-se o nascente do poente.
A nascente ganha corrente, águas de um rio que passa a rei.
Estes são alguns dos reis sem rosto. Juntos a nós e distantes do nosso pensamento.
Termino como comecei.
O rio ofereceu-me o ceptro de rei, mas continuo perdido no meio de uma plantação de milho.....
Bom Norte
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