Olha o limão, Olha a pega em crochet.
Amarroto as pegas na minha mão, tenho o redondo da renda entre os meus dedos.
Sou uma cúmplice, uma linha que coze a paz.
São os novelos que me cansam as mãos e as agulhas que se cruzam pela paz.
É a senhora que as faz?
Sim meu amigo. Sou uma bordadeira da verdade, uma vendedeira que as faz.
Eu também crio. Crio palavras, Quando ainda tenho tempo, admiro o mundo e sinto a dor.
Podemos unir as nossas forças. E criar o que for. Não tenha medo que eu levo-a a sonhar, e a força da união leva e traz.
O limão é a acidez que lhe trouxe o tempo e as pegas, servem para agarrar a dor.
Olho-a nos olhos, e sorrio para ela. Não tenha medo. A loucura tem medo de mãos que fazem parte da criação.
As pedras da calçada que piso são as linhas que me encaminham, e o alcatrão da estrada é o travão que me impede e me traz o medo.
Ouço o palpitar do teu coração, pobre vendedeira que vende o que produz.
Ferida com pus que está descoberta, mas que sara ao sopro do vento.
Sabe bordar corações? Se souber borde um maior que nós, E o mundo será rendido ao amor que nasce entre nós.
Cabelo branco, sentada num banco, fica sozinha a reflectir na minha proposta.
Sinto-a sorrir. Ficou bem-disposta.
Pelo menos entrei no seu pensamento e afastei por breves momentos o seu lamento.
São estes os sons da escrita. Que nos fazem pensar, ouvindo o nosso interior.
O pi pi pi,chuá da chuva a cair faz-me correr bem depressa, e desaparecer do seu imaginário.
Bom Norte
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