Estou mascarado pelo tempo, sonho que calço uns ténis alados e percorro terrenos famintos e distantes
Os raros arbustos, que existem na planície atiram os braços esqueléticos ao céu, penso que me saúdam? Mas é somente para implorarem uma gota de água que lhes balsame a sede.
São filhos da natureza, magras e estéreis entranhas que nada conseguem gerar.
Creio que dos galhos mirrados jamais penderam flores e frutos, mas apesar de tudo eu tentarei atenuar o seu sofrimento.
Alterei até a cor dos rochedos negros, e mascarei-os de gigantes animais lendários, máscara que assustou o Sol, e fez fugir as tormentas.
Se as tivesses conhecido, terias ficado petrificado, finjo persegui-las; mas elas regressam, a zoarem altivamente o meu nome.
Sou um agiota da natureza. Vivo nas profundezas do mais obscuro pensamento.
Tornei-me uma esbranquiçada mascara de Veneza, petrificada pelo gelo que congela o meu coração.
Que bela é esta mascara, querida por todos. Parada no tempo quente, isolada pelo tempo, Quero conduzir o dia até ao fim.
Este é o Carnaval que me enganou o pensamento. A máscara está a ser retirada, e o ser mostra-se tal e qual como é.
Parte rumo à aldeia que o espreita da esquerda, enveredando pelo primeiro atalho entrega-se à aldeia que lhe é alheia.
Cheguei vindo de um dia moribundo. A máscara ficou moldada no azul do horizonte, oculta das outras cores, que nunca a iram encontrar.
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