.
Os meus pés reparam nele, mas a minha pessoa ignora-o por completo.
A dois passos de nós. Ou talvez quase no mesmo nível dos meus passos
Existe alguém distribui cumprimentos aos visitantes que percorrem a calçada
A cortesia e a persuasão por vezes fazem parar o cidadão que vive apressado na cidade.
A frontaria do banco de cor vermelha lança o seu ouvido para tentar traduzir o som das moedas tilintantes.
Eterno condenado se torna o engraxador que vive amarrado ao pelourinho, em que os carrascos o amarraram
Será que ele sofre de alguma das novas doenças pegajosas?
Doenças pegajosas?
Sim. Originadas por acto tão respeitoso, de ignorar e desprezar o indivíduo enquanto cidadão.
Credo. Quem o condenou? Digo eu lançando um olhar escandalizado de sacerdote.
Todos nós. E ninguém de nós.
Lá dentro uma criança olha-nos da sua prisão de vidro.
Montra que filtra a vergonha a que a sociedade vindima o pobre engraxador.
Transformando-o num frágil cofre, vidro translúcido mas por vezes opaco, vidro que eu comparo a um Colar de pérolas, jóias que formam pilha desconexa da riqueza em que a sociedade se afoga,
Quero engraxar os meus sapatos.
Não falo, não respondo, não comento.
Pago. Sigo o meu caminho. Não olho para traz a minha vergonha impede-me de tal.
Vou a pouco e pouco deixando para traz o engraxador que a cidade engole, e vou esbarrando na gritaria dos transeuntes que me fazem lembrar fantasmas que se arrastam sonolentamente
Sou o Exorcista da Cidade que tenta libertar fantasmas.
Comentários