Contaram-me um segredo.

Existe um ser humano cuja sombra está esboçada no chão que eu piso todos os dias
Não conheço a sombra projectada, mas a velocidade projecta-a contra mim barra-me o caminho.
Encadeado pelo cruzamento dos raios de sol não corrijo os defeitos da vida.
Projectando uma figura cansada que se debate com a consciência de uma culpa.

O tempo torna-se matreiro, oculta-me as armadilhas que a sociedade me vai colocando.
São simples ratoeiras dispostas ao acaso. Ratoeiras estrategicamente dispostas.
Os carros expelem gás à sua passagem oferecendo um ar nauseado.

Sem sentimento de culpa lançam baforadas que me tentam barrar.
A minha tez perdeu o seu brilho jovial e tornou-se pálida.
O meu frágil corpo pretende ser transportado mas desisto fico falando só..
O meu cabelo disperso esvoaça e bate nos corpos que teima em esbarrar comigo

Contento-me com a grandeza da simplicidade. E separei-me da vaidade.
Peço pouco mas não me dão nada. Triste é o meu mundo.
Corrijo. Que triste é este nosso mundo.
Venero a luz filtrada pelo prisma que cria as sete cores do arco-da-velha aliança.
Liberdade que me nega a esperança.

Vivo sem culpa e não aceito desculpas. Somente sei que os meus cabelos esbranquiçados balanceiam ao vento.
Não sei onde chego com o meu corpo que viaja numa viagem solitária, comandada por uma máquina cerebral completamente obsoleta e desalinhada.
O seu coração compõe uma sinfonia que nunca será interpretada.

Os botões choram num Intervalo sem sentido deixando o meu corpo exposto ao pensamento
Digo sim ao choro.
Choro transportando um rosto sulcado pelo arado que lavrou uma terra estéril.
Terra sem razões que revolta e mais volta, solta os torrões do tempo que ibertam o cheiro nauseabundo de um corpo que é o meu.
Essência guardada no buraco da parede desfeita que lhe rouba o lar.
Sou um vagabundo que caminha e projecta uma sombra oblíqua afastando-te do meu pensamento infeliz.

Bom Norte