Palmilhei! Corri! Sofri!
Todos os dias da minha infância
Corro atrás de uma esperança?
Esperança que me faz pensar?
Como está mal o meu País!
Ensino que não ensina!
Ensina o ensino que não sabe o que diz!
Pedagogo deslocado! Triste e amargurado!
Tenho sede! Corre água no chafariz!
Vivo enterrado num vale onde a vida corre mal!
Tantos caminhos a palmilhar? Só mesmo eu!
Tanto sacrifício para estudar!
10 Quilómetros! 20 Quilómetros!
Quem se interessa! Que eu sofra ou padeça!
Para a escola ir estudar!
O meu queixo bate de frio! O meu corpo sente arrepios!
Estou doente! Febril!
Setembro? Dezembro? Maio? Abril?
Passo frente ao Outeiro! Passo frio o dia inteiro!
Aquecimento! Arrefecimento! Esquecimento!
Fecha a escola!
Levo a régua! Tubo de cola!
Punho tudo na sacola!
Entre as murtas e os riachos ouço sons! São passos?
Quem me acompanha para a escola?
Ninguém! Já nada aqui mora!
O vento sopra! O calor sufoca!
Sufoco que sabe a pouco mas que antevê !
O que vê? O que ninguém quer ver!
Pedras! Serras! Planícies!
Mocidade! Meninice!
Quero aprender! Sofro por isso! Dou valor!
Dói? Claro! Deve doer!
Estudo sem piedade! Respeito! Bondade!
Aldeia deserta! Que o meu coração aperta!
Desperta e avanço! Comando! Sem mando!
Caminho e corro! Sou livre! Sem ninguém por perto!
Desperto! E penso?
Quanto tempo irá durar?
Aprender custa! Pedagogo! Celta! Visigodo!
Reis e rios! Tanto caminho junto ao rio!
Barragem que miragem! Projecta a minha imagem!
Livros que não me dão! Dinheiro que faz falta!
Porco ou vaca? Mais importante que os estudos!
Ração e criação!
2 x 2 quantos são?
Riachos que me lavam os sentimentos! Correntes sem destino!
Não contribuo! Não sou estatística!
Não sou cigarro! Sou faísca!
Beata lançada ao chão que queima a floresta e a transforma em carvão!
3+2 quantos são?
O tempo que demoro é o tempo que o tempo me cobra!
Alface couve e abóbora!
Chego ao fim do dia?
Procuro descanso e tenho que trabalhar!
Lavoura! Agricultura que perdura!
A tarde já finda! Regar sachar mondar!
Procuro o meu lugar! Cadeia sem fim!
Trabalho! Trabalha! Trabalhar!
Ao fundo do talude ouço o meu pai ralhar!
A mãe está a mondar! A mana a servir!
Sopeira que paga a sopa e que tira a roupa!
Filho bebé que abandonou! Fruto de relação da altura!
Má fama que perdura!
Criança na alcofa! Separação à força!
Sopas de cavalo cansado! Cerca de arame farpado!
Coração lavado em lágrimas!
O bebé? Está a sorrir!
Não sabe que partistes?
Nem que pediste para não o abandonar!
Lavra a terra! Lavra a terra amanhã é dia de estudar!
Deita-te! Candeia que ilumina paginas do teu caderno!
Fazes as contas! Chegou ao fim o teu inferno!
10 Quilómetros! 20 Quilómetros!
Quem se interessa!
Vou continuar!
BomNorte2010
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