Eu só gosto um pouco de ti
A rima que teima em rimar
O calor que demora a passar
O refresco que o gelo não arrefece
As flores que gosto de cheirar
Vejo ao fundo as borboletas
As Margaridas e as Violetas
A água escorre pelas valetas
O cantar do grilo faz-me despertar
Acorda-me e vejo a realidade
Lá no fundo ouço música
Um tenor a cantar
O António ensaia! Deixá-lo cantar!
A música rima e combina com a estação!
Lírios, Agapantes e Ameixoeiras!
Limoeiros, Pessegueiros e Laranjeiras!
O jardineiro com o ancinho alisa o canteiro
Cheira a fresco cheira a terra.
Com as minhas mãos desvio o curso da água
As folhas navegam no seu curso!
Tenho alergia, tusso!
Afasto de mim as minhas mágoas
O Mix Border está concluído!
Ficou bonito e colorido
A hera! Trepadeira endiabrada galga o muro com garra
O banco vermelho cora de emoção!
As folhas das árvores deslizam para o chão!
Caiem! Em contramão! Baralham-se
O bebedouro secou! O pássaro tenta em vão beber água!
Estava habituado. E agora sente-se enganado
Coitado! Sinto a sua mágoa!
O cão ao longe ladra de contente!
Tenho crianças em casa!
Vivo! Estou presente!
De repente a campainha toca.
Levanto-me! Vou à porta.
Carta registada! Exclama o carteiro
Quem será? Falo primeiro
Não me diga que é de Angola! Onde luta o meu irmão.
Deve ser minha Senhora!
Abro a carta a tremer! Pressinto algo de mau.
Os meus olhos percorrem todas as palavras da carta.
Do texto todo o que retenho
Foi simplesmente uma frase!
“Tombou em solo africano. E lutou e honrou o nome desta nossa Pátria - Portugal.”
A tristeza apoderou-se e nunca mais acabou!
O jardim murchou! O jardineiro nunca mais o regou.
O bebedouro secou.
O banco apodrece e a minha dor! Permanece.
Pela Pátria Lutou! Pela Pátria Tombou!
Hoje é dia 20 de Agosto do ano de 2010
A guerra já à muito que acabou
E a mim um irmão me levou!
Refugiada na minha tristeza, relembro com exactidão todos os bons momentos que passamos juntos.
Para muitos será sempre difícil compreender o meu sofrimento
Mas! Quando agarro na moldura com a tua foto de soldado
Que lindo que está tu fardado!
Peço que Deus me proporciona
A alegria de que possa um dia
Cruzares no meu caminho?
Mas já sei de antemão!
Que de coração quebrado
Eterna será a minha espera!
Movida por uma vontade
Que me nega a verdade
Me tira e rouba a liberdade
De o Mundo poder voltar a Amar
Mas sinto a saudade eterna
E como a dor impera
E o dia está para chover
Volta para mim querido Irmão
Não vês que estou a sofrer!
@BomNorte2010
Comentários
Está muito bom, como sempre e gostei de vir aqui escrever.
Continue sempre.