A noite está fria!
Ao longe ouço gritos!
Pessoas!
Sonhos desfeitos
Seres apaixonados com os corpos entrelaçados
Anéis colocados em dedos apertados
Juras de Amor! Amor que acabou
Afogados e congelados
A água do mar o seu corpo reclama
Singela dama que o rapaz francês ama
Reza de joelhos pela sua perda
O Amor há-de vencer.
Sente a beleza da separação
Num tempo em constante mutação
As pálidas madeiras de carvalho bóiam num mar que transporta tristeza
Beleza desfeita e transformada
Pratos quebrados, pratos novos. Que nunca foram usados.
Um homem luta contra o tempo
Luta essa que se rende à exaustão
Uma mulher chora a sua sorte. Dificuldades em enfrentar a morte!
Ao longe os botes afastam-se. Luta pela vida que parte.
A lua está envergonhada mas ainda ilumina o teu caminho.
Salvação demora! Morte anunciada
A água está cheia de vida que procura afastar a morte
Triste! Uma mãe chora a sua sorte.
Alguns rendem-se e fecham os olhos
Num mar que se encontra espelhado
Existem brinquedos que flutuam sem dono
Crianças.
Que nunca iram acordar do seu sono
Corpos enregelados.
Espectáculo macabro sem hora marcada
Famílias desfeitas e com as malas feitas
Mergulhados na escuridão lutam por salvação
Imensidão que ultrapassa a noção da realidade
Botes insuficientes!
Impacientes!
Razão transformada em luta. Disputa.
Luta pela sobrevivência que mostra decadência
O ser humano na luta pela sobrevivência
Socorresse-se de qualquer valência
Pessoas que batem os dentes mas que na hora da morte morrem sorridentes
Cifrões que falaram mais alto e venceram a razão
Estanquidade foi posta à prova! Reprova.
Jovens e não jovens gritam aflitos!
Morrem aos gritos
Situação triste! Embaraçosa
Na coberta superior existia beleza existia glamour
A nobreza concorre com a aristocracia
Bebia-se muito! A noite está fria
Cadeiras arremessadas!
Flutuando num mar gelado
Serviram de salvação
Para uns sim! Para outros? Não!
Navio jovem que inicia viagem
Um bloco de gelo corta a sua passagem
Miragem que lhe nega continuação
Morte oferecida. Luta vencida
Tanto frio! Tanta tristeza o que era bonito feio se tornou
Dividido tombado e para sempre humilhado
Onde está o narrador! Morto? Congelado?
Planos secretos?
Desfeitos.
A orquestra toca!
O maestro não abandona os seus!
Os músicos agradecem!
E tocam. E tentam animar
Quem de bom grado a morte quer aceitar.
Ao longe o grupo tenta lutar!
No navio?
Garrafas de champanhe e copos na mão
Brindam às suas próprias memórias
Velhotes enfrentam as suas vitórias
Senhoras retocam a sua pintura
Beleza intemporal
Que linda moldura
Tentando salvar a festa!
Resolvo entrar e enfrentar o tempo que me resta
Lanço um convite.
A uma senhora que resta.
A Dama dança?
Ela diz que sim!
Mas franze a testa. Preza o pouco tempo que lhe resta
Rodopiamos e libertamos o nosso pensamento
Os outros passageiros,
Admiram o gesto
O Barco inclina-se e a dança termina
Diz-lhe o quanto a amas.
Mesmo que esse amor. Não dure uma hora
Agradeço à dama
Abandona-la à sua sorte.
O seu nome?
Não sei como se chama!
Tristezas ocultas e tão bem disfarçadas
Caras felizes mas transtornadas
Pessoas! Que aguardam a sua hora!
Por entre as portas que se abrem
Num barco que se parte!
Entramos em conjunto
Provocamos um borbulhar profundo
Entre os corpos que se afogam
Num mar que é profundo
Mas que acolhe e venera a sua oferta
Presto homenagem à sua memória
Porque em apenas quatro dias
A vida iniciou
E no meio do oceano um jazigo se formou
@BomNorte2010
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