Uma noite!

Abre a vala e tapa a vala

Lisboa está sempre em obras

Cidade da renovação?

Ou é uma cidade que caminha com as obras pela mão?

De martelo na mão e Rodopiando e escolhendo a pedra com a sua mão

O Calceteiro empedrador talha a pedra com sábia mestria

E mostra toda a magia da sua bela profissão

Artífice e cúmplice da decadência embelezam a cidade com paciência

Afasta-se para contemplar a sua obra e limpa o suor que lhe sobra

Belo e artístico trabalho que vai remendando e embelezando a cidade

Crio caminhos crio atalhos!

É um dos poucos trabalhos em harmonia com a natureza

É sim! Comcerteza! Belo trabalho! Que beleza!

Encosto-me à paragem como se fosse uma barragem

Estou cansado mas feliz. Sou um mestre escultor

Mas eis que se aproxima o autocarro em questão

É o condutor da Carris que conduz a mãe e o petiz!

Vai fechar! Vai fechar!

Só mais um pouco, por favor!

Estou atrasado! Toca a andar.

Passa no Castelo?

Desculpe mas estou primeiro!

A porta é fechada e o itinerário comprido!

O eléctrico saudosista e progressista!

Já conhece o caminho subindo e rodopiando

Contornando e encantando!

É o encanto do turista.

Take a photo!Take a photo!

Chego a casa e salpico as minhas calças de lama

Cuidado estou a lavar!

Olho em todas as direcções.

Quem me chama?

É o lavador de ruas que nos embala no Verão!

Com o seu assobiar matreiro

Lava a rua o Cantoneiro

Com a mangueira com pressão.

Desperta o petiz

Menino rabino e sabido

Que enfrenta uma luta contra o sono.

A mãe já cansada olha para ele

E fazendo questão que adormeça

Diz ao menino baixinho.

Faz Ó!Ó! Meu menino

O senhor lava a rua.

Se fizeres muito barulho

O senhor molha a lua!

O menino meio confuso

Lança um olhar obtuso!

O menino está com medo

De a Lua se molhar!

Enrola-se à mãe e chora.

Adormece na cama e rebola .

Boa bola! Pensa a mãe.

A rua passa a cheirar a limpinho!

Nas janelas ainda restam alguns espectadores

Espectadores sem sono! Que se recusam a abandonar o balcão

Aplaudem em silêncio

Limpeza e trabalho concluído

Fecho a janela com ruído

Corro o cortinado no postigo.

Lavo os pés no bidé e deito-me por cima da roupa

Estou cansado e já é tarde

Rendo-me à cidade

Lisboa consegue uma vitória

Cidade que consegue encantar

Encerra truques dentro da sua manga.

Truques com os quais nos ilude

E mantém o encanto Secular

De uma Cidade que nos quer Amar.

@BomNorte2010