Nos arquivos da humanidade
Existe arquivada uma história que nunca nos foi contada
A história de um mundo que se tornou perfeito
E que num dia de Setembro o seu destino foi desfeito!
Conta um homem que por lá viveu e que por sorte sobreviveu
Era um ser quase perfeito que com o tempo se tornou imperfeito
Ainda hoje se sente o seu perfume
Mas o seu rosto já é uma sombra
Sombra que deu lugar à penumbra que ensombrou o seu lugar
Vidas que ceifou e leite que azedou
Ganância que me tirou da mão a enxada
E que depois com ela não fez nada
Eu sou um mero tormento que manipulas e até me empurras
Tomando o meu lugar, adversário que me quer tombar
Páginas de jornais em que semeias tristezas
Pobres que choram e não são acolhidos
Crianças inadaptadas que não são adoptadas
Negros ciganos e outras raças mais
Só queres arianos. Puritanos. Somos iguais!
Mas o que me dói é ficar na rua com o olhar desfeito
Sentir o cheiro da tinta que o papel tingiu
Jornais que são esticados e velhos a dormir por baixo do parapeito
Fomos sempre civilizados e tantas vezes somos animais
Criança com medo que espreita por baixo da cama
procurando os seus tesouros
Amigos que não ligam mas que nos fazem surpresas
Casais que casam e que não se separam mais
Conheço o condomínio e procuro nos vizinhos alguns sinais!
As nuvens passeiam no céu e o sol que brilha no alcatrão
A esplanada está repleta. Meninas que circulam de bicicleta
Skates que sobem pela parede
Chafariz que mata a sede
Repetes e tropeças e balanças pela rua
Vamos tricotar?
Sabes como isso se faz?
Eu ensino!
Vais gostar! È para isso que serve a amizade
E pelo vidro que reflecte a tua imagem.
Avanças para me dar um pouco da tua educação
E o teu abraço marca a diferença
Num dia que foi mau para mim.
E se algum dia a nossa amizade enfraquecer
Peço a Deus que de mim não te escondas
Porque os meus olhos te ignoram mas o meu coração chora
Leões que brincam com a aranha e que rebolam na lama
Homens enfraquecidos, pálidos e rugas como sinais.
Esticam a mão à caridade
Mas o rico vira a cara e ri-se de mim.
Desfeito o que está mal feito. Num mundo cheio de preconceitos
Voluntário que luta por um salário
Desagregado pela sociedade
Empurrado e vaiado por políticos que são anormais
Lutas pelos direitos quando eu cruzo as pernas
A olhar para alguém que me guarda.
E se me dizeres que uma esmola ao pobre deste!
È porque o pobre a ti mais te deu!
Olha para o chão e foge de mim que sou um trapo
Farrapo que se despe e que de chagas o marcas-te
E quando um homem rouba ao outro o pouco que ele tem
E enriquece e enfraquece matando os justos que já são poucos
Comes a carne e desprezas os ossos
Roubas a fantasia e escondes a amizade
trancas e mais trancas chaves e cadeados
Escondes e enterras a chave num local qualquer
Abraço que um homem não me quis dar
E um beijo que ele nunca me deu!
Quando estou só procuro um cigarro.
Anéis de fumo que procuram uma companhia
Evaporar e transfiguração numa imagem que eu quero encontrar
Escondes e finges que não és um ser frágil
Mas ao anjo que te guarda
Pedes que eu fique ao pé de ti
Dá as mãos e passeia ao lado da pessoa que está só
E da espiga de trigo faz o pão que alimenta a amizade
Não desconfies dos sentimentos de alguém
Pois existe sempre alguém igual a ti
E não existe melhor tesouro que um sopro que nos faz rir
E um riso maroto que um amigo te oferece
Guarda a amizade e reparte pelos teus amigos
E guarda um pouco também para mim!
Pois eu necessito e por ela procuro aflito
Vamos fazer um bolo e dividir as fatias
Beber café! Falar até que a garganta te doa.
Chá de limão ou capilé
Refresco ou bebida com gelo que rejeito
Conta-me as novidades. Dividimos as histórias
Porque amanhã poderá sair nos jornais.
Vamos dividir o mundo a preceito
E transformar os povos
Nuns seres normais
Porque amanhã eles serão animais.
Embrulha o possível e distribui por os demais.
@BomNorte2010
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