Estou perdido
Sinto um sufoco e um impedimento
Alguém que me pede e me impede.
De não me tornar num peso incomodativo
De a bebida se tornar o meu castigo
Olho e não compreendo o sufoco que me impede
E eu somente dou cabeçadas na parede
Tenho um calafrio que me marca e me alcança o andar
Me tira o medo e me dá a esperança
Que me deixes em paz e me faças um trôpego rapaz
E quero que tu!
Me vires costas para eu enfim me engasgar
Não quero a tua companhia
Quero que deixes de ser um Pacificador
Posso ser um provocador. Gosto de jogar
De beber e de me entreter. Em brigas me meter
Um dia durmo na cama. No outro durmo no chão
Deixo pegadas que ficam marcadas no chão
Chão com pó. Chão que reflecte a madrugada
Subo ao telhado e avisto o rio ao fundo
Andarilho que sou. Espantalho me sinto
Pesa-me a Alma e no fim!
Não tenho nada que dizer
Só me resta mentir
Procuro o que escondi
Encontro e fico feliz
De adulto transformo-me num petiz
Agarro na garrafa
E deixo-me escorregar
Prazer divinal
Liquido que faz mal
É bom, mata a sede.
O prazer escorre em fio
Fio que se divide e me engasga
De olhos arregalados. Sinto um enorme prazer
Prazer maior que o prazer carnal
Dançarino do Carnaval
Álcool que me atinge e me faz sentir a tempestade
Que me molha e me guia a vontade. De me refugiar
E enfim me dedicar ao meu pecado
Pecado que quero que seja só meu
Atravesso o quarto atrapalhado
Cambaleio e rio. Já não tenho frio
Dou saltos em cima da cama
As molas rangem. Cama que abana
Sinto que estou desesperado
Mas todo o que eu quero fazer é somente
A semente do pecado
Diabo que me atormenta
Tridente que me pica e me deixa inquieta
Não consigo ficar quieto. Trago a praga no corpo
Que me traga, me suja e me provoca bebedeira
Sou um egoísta que vive um dia de cada vez
Corpo porco e sem jeito corpo sem carne
Cabelo que cai. Rosto desfeito num olhar baço e sem jeito
Moldura sem fotos que guardas só para ti
Vergonha que sentes! Orgulho que não sentes
Sou a pele, e a roupa que o encobre é esfarrapada e usada
Unhas sujas e orelhas que coças
Pragas que transportas e piolhos que se duplicam
Pulgas que te picam e te deixam sinais.
Não desistas de ti e não te deites lá fora
Não quero ser criança! Quero ser um sonhador
Olho ao espelho. Abro a água do chuveiro
Ai! Ai! A água está gelada.
Estou a falar contigo!
Monologo de bêbado que inicio
Todo o dia é assim
Eu sou um bêbado! O mundo é que não é perfeito
Perco a família! Quero encobrir quem eu sou.
Bêbedo? Claro que não.
Estou somente cansado!
Está enganado! Eu não bebo álcool
Toca o despertador!
Já será tarde. Não me interessa a verdade.
Somente mais um trago e escondo o embaraço
E a cruz que carrego!
Bebo e bebo! Bebida que já me sabe a pouco.
Porque amanhã poderá ser tarde. Por isso bebo ainda mais
Pacto que travei com o Diabo
Não quero saber o que tenho a fazer
Somente quero beber.
A minha carteira é original
Não tenho fotos. Não tenho documentos.
Só me quero saciar! Não quero mudar! Não sou exemplo!
Vivo no isolamento e o meu castigo é somente este
Sou um idiota que só quer beber!
Rio-me e embaraço e deito-me numa cama que não desfaço.
Adormeço e rezo ao meu anjo da guarda
E peço que te guarde e que afaste este vício de mim
Porque sinto que já estou a chegar ao fim
A garrafa entorna-se. O álcool evapora-se e o bêbado adormece por fim
@BomNorte2010
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