Chegada ao hospital em alta velocidade
A viatura abranda e o condutor fixa o porteiro.
Não esperando a sua vez grita.
Urgência.
Estou apressada. Não posso aqui ficar.
Sim. È o costume.
A viatura pára e termina a corrida contra o tempo.
Do lado esquerdo da viatura sai uma mulher madura.
Esguia e esbelta como uma estátua que o tempo não fura
Os seus braços são de uma perfeita geometria
Movem-se em direcção à porta traseira
As suas longas pernas galgam as barreiras temporais
Os seus movimentos são leves como o ar.
Sem espaço no banco traseiro para pernas
Sai velho e cansado da viagem o pai da esbelta figura
Elas mantêm-se séria, e segura do seu acto
Ao mesmo tempo serena com sua beleza e palidez,
Não demonstrando nenhum sentimento.
Voltou a entrar na viatura.
Sorriso cúmplice daqueles que o deixam entregue à sua mercê
Coitado. E ele?
Deixaram-no ficar. Como é óbvio.
Andar torturado pela idade. Peso que carrega e olhar cabisbaixo
Ante visão do destino. Entrada em sofrimento.
Então. De que se queixa?
Doença da Véspera.
Claro. Nota-se logo.
Que cor define a sua prioridade?
Cor negra talvez? Cor da malvadez. De quem sabe o que fez.
As cadeiras já estão quase todas preenchidas.
Cada ano que passa a febre tende a aumentar.
Somos as vítimas da sociedade. Rancorosa que me ignora.
Chamem todos os anjos do céu e castiguem os pecadores
Só nos votos é que me namora. Santo pecador.
Somos os olhos tristes de uma nação que nos ignora.
Somos um biblot sem uso. Que desfeia a decoração.
Rotura familiar de um ser que já cá fica mal.
Farrapo de flanela rasgado e sujo.
Óculos remendados com fita gomada.
Pessoa sem prenome. Que já não responde ao nome.
Diabo sem amor que com mãos de veludo. Brinca no escuro.
Perfume sem rosto. Frasco entornado envolto em vomitado
Mancha de um ponto negro inexistente de um doente abandonado.
Trocado por um feriado.
tratado como um maço de cigarros amarrotado.
Doença da Véspera. Rotulo que demora a descolar.
Lá fora a lua brilha mas não é para todos.
Numa sociedade inculta e insensível
Que trata os idosos como filhos da _ _ _ _!
@BomNorte2010
*Doença da Véspera porque é nas vésperas dos feriados que as famílias abandona os idosos nos hospitais.
Muitos idosos são retirados dos Lares para irem passar o Natal com a família. E o que é que a família faz?
Dá entrada do idoso no hospital e deixa-o lá até chegar a altura de ele voltar para o lar.
No dia seguinte tem que ser a PSP que anda a distribuir os idosos pelas casas e pelos lares , porque ninguém os vai buscar.
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