Tenho o pensamento atormentado pela dor.
Todos os dias coloco-me ao lado do relógio e espero a tua chegada.
O comboio entra na estação. O vento afasta-se e dá-lhe passagem
E levanta o lixo que se amontoa.
O lixo pesado fica.
E o lixo leve voa.
Uhhhh ! Uhhhh ! Pouca Terra ! Pouca Terra !
O comboio passa e o seu som entoa.
Som esse que entra em conflito com o meu coração.
Alterando a minha palpitação
Olho ao meu redor e espero um milagre. O milagre da estação?
Permaneço estático junto ao mostrador do relógio.
E os seus ponteiros permanecem imóveis.
Como se estivessem à espera de um sinal
Estamos em conivência.
Um está parado.
E o outro tem paciência.
Infinita circunferência que já não é circundada.
Olho os carris que cruzam a estação e questiono-me
Quantos ficam? Quantos são?
Os bancos da estação está gastos do muito uso e abandono que lhe dão
A sua madeira encontra-se cinzelada com mensagens de apaixonados.
O vento transporta o odor de um passado glorioso e de um futuro vergonhoso
A locomotiva está cansada, o maquinista está velho e surdo.
O cão castanho de pelo gasto atravessa a estação a correr.
Ignorando por completo a minha presença.
A minha lembrança transporta-me a França.
E pela desconfiança de uma partida que não tem volta
O meu coração chama e clama por perdão.
O meu olhar torna-se fixo e os olhos lacrimejantes.
Vejo melhor ao longe e fico radiante.
Mas sou um ser errante que espera um regresso.
Um coração que padece. Com uma batida entristecida.
Via singela que me aviva a culpa.
Sinto que sou um enclave dentro desta estação.
E por entre as travessas que atravessam a via.
Deito-me e espero que me transportes ao seu encontro.
A composição entra a soprar, o seu som torna-se metálico
Ela encontra-se com disposição para me enfrentar
A bandeira vermelha desenrola-se.
e por entre chiadeiras e fumo que se enrola.
Sinto o ferro que me estilhaça e me lança pelo chão.
A minha mente voa e liberta-se.
O sol desperto em mim a sua atenção.
Os seus raios ficam apáticos e fixam-se em mim.
O relógio começa a trabalhar e começa a cadencia. Ganha ritmo.
Os ponteiros aquecem devido à exagerada rotação.
O calendário retrocede.
E o tempo volta para traz.
A estação está repleta de viajantes sedentos de mudança.
Ela tenta partir?
E eu por saber o que o futuro me guarda.
Demovo-a da sua vontade e conto-lhe a verdade.
Ela comove-se e chora. Fita-me nos olhos. Procurando a verdade.
Agarra na mala. E abandonamos os dois a estação.
Fintámos o tempo.
E a história foi alterada.
O Amor ganhou.
A estação perdeu um sofredor.
Todos os dias cá volto.
E olho para o relógio.
Esboço um sorriso.
Que lhe serve de aviso.
De que ao tempo consegui ganhar.
Viva o Amor.
@BomNorte2010
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BJ.
CHRISTINA