Hoje é dia de festa.
As estrelas brilham no céu que outrora fora negro
Centauro namora Hydra que se encontra envergonhada
Os milhões de estrelas vizinhas, deleitam-se com tal namoro
Vénus está orgulhosa e porta-se como uma mãe vaidosa
Sussurra-lhe uma cantilena de embalar
Cúpido, recusa o amor de sua mãe. Está agitado!
Entre as sombras mudas. Cúpido fantasia travessuras.
Lá em baixo na Terra as portas encontram-se cerradas.
O silêncio da maternidade encontra por fim a luz do astro que o chama
O berreiro ensurdecedor de um parto põe fim a uma dor.
Quilómetros percorridos no pensamento. Sufocada pela torneira húmida do seu suor
E pelo respirar sincronizado que marca uma cadência, afim da dor aliviar.
Com as mãos cerradas suplica a todos os santos e deuses para a sua hora chegar.
Cale-se mulher! Ouve-se uma voz. Você arrasta o suplício.
A mulher marca a cadência da respiração tentando não incomodar.
A sua extensão vocal de mezzo-soprano tenta lutar para voltar
Os seus ouvidos acompanham os passos apressados das enfermeiras no piso
Não é um presságio é um aviso.
O chamamento da vida clama pela luz do sol.
O pequeno corpo encurta a distância e tenta escapar.
A corrida começa.
Centauro pára de namorar Hydra
E as estrelas cintilam cada vez mais, agitadas e olham de soslaio a estrela vizinha.
Cúpido está de olhos abertos aguardando a chegada.
Cá em baixo os pombos voam em círculos abertos.
Tudo ganha movimento agora.
A beleza do nascimento está a acontecer.
É esta a razão de tanto pranto
E por entre as brechas das paredes ouve-se a criança a chorar.
As esposas ainda sem filhos apearam-se e dirigem-se em banda para a igreja.
Os sinos não param de tocar.
Nasceu mais um belo ser!
Mais outro está para nascer!
A criança tenta sôfrega lamber o peito de sua mãe
Que se encontra lambuzado com a goma da sua saliva.
Depois de tanta agitação!
A mãe e a criança por fim descansam
Enfim sós.
Longe dos olhares indiscretos.
Todas as estrelas se tentam inclinar, para o bebé poder venerar
Hydra chora de alegria e Centauro vira a cara de lado, cúmplice envergonhado
Vénus contempla Cúpido e sussurra-lhe palavras doces ao ouvido
As estrelas intercalam rezas com pequenas vénias nervosas.
As faces bronzes dos familiares esperam
Rezam orações suaves que pouco a pouco se vão afogando em lágrimas de alegria.
As estrelas remendam minúsculos cobertores de estrelinhas para aconchegar e iluminar o bebé.
O pai não arreda pé. Vai por fim o bebé visitar.
Retiro-me entoando canções de boas-vindas
Carrego o peso da melancolia e do respeito da humanidade.
@BomNorte2010
Uma oferta do BN
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