As minhas mãos percorrem incessantemente as suas teclas.
Os acordes são como gotas de essência que perfumam o salão.
Tecla a tecla os martelos batem freneticamente.
Cada tecla activa uma nota que se gasta e se evapora no ar.
A humidade da sala deixa transparecer o meu estado de alma.
Calma!
O plectro está cansado de tanto beliscar as cordas.
Estou centrado no meio de uma multidão que me olha espantada
Não conseguem perceber a minha música. O meu sentimento não é transmissível.
Os meus olhos vagueiam pela sala. Procurando compreensão
Comparo-me a uma pintura suspensa na parede. Quintessência do Verão.
Verdadeira aberração aos olhares desta multidão.
Que se interroga constantemente.
Olhares decadentes, de pessoas feias que não mostram os dentes.
Pessoas sisudas tristes e mudas. Que não me querem ouvir.
Flor que não sabe que é flor.
Razão pela qual não quer florir.
Este é o meu décimo segundo mês de actuações.
E por entre galos e pavões enfrento o sol de frente.
Feliz por vezes.
Sou um contente ausente de gente.
Entro mudo e saio calado. Sou por vezes vaiado.
Marco uma linha recta no meu destino.
E no meio do descampado monto o meu acampamento.
O piano está tapado por um pano de linho cru e sujo pelo pó
Estou farto de oitavas.
Farto da escala diatónica que tento escalar.
Muy Bien! Ouço alguém gritar.
Olho para o chão envergonhado.
O tapete verde de veludo está sisudo.
O meu rosto enfrenta a pessoa que me saúda.
E a sala deixou de ser sisuda.
Abandona o estado triste e mudo.
E rebenta em euforia.
Muy Bien! Muy Bien!
Gritam todos em coro.
Sinto que sou de longe o melhor músico da rede.
Um norte sem desnorte.
Um artista em ascensão.
Levanto-me e um suave coro de vozes femininas acompanha o meu movimento.
E com um movimento gracioso agradeço à plateia.
Abandono a sala com uma espantosa rapidez
Deixando a plateia na sala a interrogar-se.
Quem é ele? E ele mesmo?
Capricho de alguém bem-intencionado que não quer deixar ninguém magoado.
E conta-se aqui na rede. Que nunca existirá ninguém como ele.
Que encanta pela sua espontaneidade e espanta pela variedade.
Sem caprichos de favoritismo. Será recordado até aos finais da história.
A história acabou!
E dele nunca mais ninguém se lembrou.
Coitado do BN
Teve uma Ascenção rápida e uma queda vertiginosa
Por isso ainda se mantêm a interrogação
Bom Norte ou Norte Bom.
Será presságio de Sorte?
@BomNorte2010
Comentários
Ah, BN, o destino é que dita as regras, prime as teclas, toca os acordes...
Não queiras daber demais, não questiones e não tentes adivinhar a Sorte...
A nós, não pertence, só Ele sabe, só ele predestina...Não tu, não eu...ninguém...