Eis uma história que é bastante complexa.
Uma história de alguém que tropeça na vida.
Mas? Que tenta avançar numa direcção
Não hesita e caminha em frente Não desiste de ser gente
Por entre os grãos de areia que vai pisando, vai pouco a pouco afundando os seus dedos
Caminha em direcção da água para tentar afogar de vez as suas mágoas
O sol vai perdendo a sua intensidade tórrida
E por uma margem que me nega o desejo, caminho.
Vagueio numa praia deserta. A chuva chicoteia o meu rosto
A areia está lisa e parece que me avisa de algo.
Escuto! Mas não ouço nada
Tarde feita. E o mar emana um cheiro que vai modificando a minha mente sã
Procuro ganhar forças.
Estou sequiosa por uma solução
Fecho os olhos e sonho.
A praia está calada, e eu grito de tristeza sabendo que ninguém me ouve
Vou marcando as minhas pegadas no chão liso da praia
Chegou o Outono e acabou o Verão. O meu tempo está a chegar ao fim
Liberto lágrimas em cascata. Beijo o tempo como um filho.
Não tenho nada a perder. Vou apostar a vida toda
Vou arranjar machados que cortem este fio que me une à vida
Estou no fim de uma história que acaba assim!
Um por todos. E todos contra mim.
Sou uma sombra de um corpo que se encontra marcado
Desfigurada, maltratada, humilhada
Sou uma lâmpada sem filamento que se fundiu e sofre por dentro
O vento cada vez torna-se mais forte.
Parece que me chama. Parece que me quer
Lanço o meu chapéu contra o vento e a minha saia de tecido azul está inundada.
Olho a minha marca na perna que me transformou numa tela humana
Sou um peito sem esperança, num corpo que quer ser manchete dos jornais.
O prazer de uma vida que foge por entre um olhar de desafio.
Não vou ficar sem tentar.
Quero hoje acabar com tudo.
Avanço em direcção ao mar. Nem para trás tento olhar
Entro no oceano e por entre as vagas que me engolem as entranhas
Grito!
Ai! Gosto disto.
Vou pouco a pouco bebericando a água salgada que me vai tornando pesada
Sinto que estou sendo banhada num panelão enorme
Sou um menu invariável.
O diabo chama-me para dormir.
Já vou! Ainda estou a divertir-me. Refilo
Estou a ficar sufocada,
Torno-me um passado que está a abandonar o presente
Uma luz branquinha aponta lá para o alto
E a imensidão do mar devora-me devagarinho
O meu ventre perde o vestido que me abandona a pele
Sinto que a vida me foge por entre os dedos.
A chave de um grande mistério chega perto de mim.
A lua está cheia e o grande momento é agora
O luar torna-se esplendoroso e permite que eu leia e rabisque o meu destino
Os rochedos tornaram-se planos e lisos e aceitam o meu corpo que vai abandonando o buraco
Fico exposta, tenho penedos que afloram ao nível da água para servirem de meus guardas.
Sádico prazer que me deixa só, no ponto onde o mar me largou.
Não tenho lugar para onde fugir! Nem quero.
As gaivotas tornaram-se loucas, e ensaiam corridas olímpicas sobre um céu que se tornou o seu estádio.
Já não fujo. Já não tenho para onde fugir.
Fico eu com quilómetros de monotonia só para mim.
E sem vida para digerir. Alguém para discutir
Quero alguém para discutir.
Eu sei o que quero. E estou a exigir.
Mar fatídico que me oferece uma bengala.
Mas? Não me deixa fugir dele.
Presente original que me deixa num estado marginal
Universo sem regresso que eu tento em vão conquistar.
Poder de uma vida que abandona o meu corpo.
Vida que desfila numa terra que me julga
Me faz sentir como uma perdedora
Que jogou um jogo e perdeu.
@BomNorte2010
* A foto é uma oferta da minha amiga Carina Rodrigues
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