Terra de onde eu parto. Sinto. E espero guardar o cheiro da minha terra.
A cor que anseio, o nome que nunca esqueço.
Razão. Sentir Carnide.
Desprezada por vezes, embelezada por mim. Enfim.
Mágica se tornou, ilusão que nos oferece.
Terra molhada, macia e que cheira a orvalho.
Becos e azinhagas que serpenteiam pelas estradas, trocam-me as voltas.
Crianças que brincam e encantam. Rua do Norte.
Ou talvez rua do Bom Norte.
Rua da sorte que lhe quero bem. As crianças? Onde estão elas?
Correm, estão felizes, alegres.
Polvilham com a sua alegria Carnide. Colocam fim à melancolia.
E os idosos? Os Idosos ansiosos que guardam histórias no seu livro de memórias.
Rebanhos que pastam, crias que acompanham a sua mãe.
Árvores dispostas com harmonia, eterna natureza que coabita com simpatia.
E as casas antigas que estão agora vazias?
Casas vazias, que morrem e soluçam.
Pedem ajuda, consegues salvá-las?
Chegou o seu fim, aqui tudo se acaba. Mais tarde ou mais cedo as pedras deslocam-se.
Provocam a derrocada, o fim. A mudança.
Mas tudo o que lhes resta é a esperança. Nem tudo é morte!
Lá no largo as palmeiras acenam, oscilam as suas folhas e refrescam o ar que respiras.
As casas estão coloridas, as velhas lavam as suas roupas, branqueiam.
A Cor negra das suas vestes marca uma posição. Não estão receptivas a uma aproximação.
Celeiros para animais, prados e muito mais.
Cheiros sensuais, fragrâncias sazonais.
Pardais, tordos. E morgados que embelezam os seus quintais.
Ramos de Alecrim que ardem na Igreja que rivaliza com a beleza do jardim.
Ao fundo ainda vejo, o cortejo. Marchas, feiras e muito mais.
Freiras, freis, padres e conventos todos coabitam em harmonia.
Coreto está orgulhoso do seu lugar.
As mesas agrupam-se para o jantar, mesas ruidosas jovens casais namoram. E sonham com os doces conventuais!
Os carros estão mal colocados. Atrapalham.
Mas é esta a sua Magia. Carnide no meio da confusão.
Liberta-se e reina. É forte esta minha freguesia.
Quiosques com livros. Fábrica do pão.
Alfaiate que corta e rima o refrão. Os sinos entoam por cima da minha cabeça. Carnide espelha saúde e beleza.
Encanto e mistério.
E a Pobreza? E a desilusão?
Existe porventura alguma, pois então.
Carnide não é só beleza tem feridas e cicatrizes.
Os pombos não são perdizes, e os meninos não são tão finos.
No meio da beleza existe a certeza. O que é feio, bonito se torna.
A água ferve, e o leite se entorna. Poetas e pintores fotógrafos e artistas.
Pincelaram-te de beleza e te oferecem grandeza.
E as ruas à luz da lua iluminam a minha calçada.
Ao fundo desço a escada e abandono Carnide.
Mas sinto que, um dia hei-de voltar.
Ou talvez?
Nem tenha coragem para partir.
BomNorte2010
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