O sol está a começar a nascer.
Há muito que estou acordada, tento partir um ramo frágil, que mais parece uma bagé de feijão. Mas não consigo.
Peço ajuda. Mas estou de castigo.
Hoje o dia irá estar soalheiro, bato as minhas asas e aliso-as com o orvalho que ainda resiste.
A planta onde estou poisada, será por mim polinizada.
Sou uma borboleta que conhece as plantas da natureza.
Curtos são os dias. Curtos de mais para eu fazer parte de uma história.
Sou um voar de mariposa que se tenta mostrar
Insecto vaidoso. Que bate as assas ao destino
Respeito a beleza, choro de emoção. Danço ao sabor do tempo.
Tic.Tac.Tic.Tac. A mariposa vaidosa está a dançar.
Ela parece procurar a sua sina, procura resposta insecto vaidoso.
De costas voltadas à verdade, está amuada.
Encostada ao gineceu, parece que canta.
Gineceu. Gineceu. Isto é meu. Isto é teu.
A minha beleza inalterada. Contempla ela o seu reflexo numa bolha inchada de água.
Bolha essa que mostra que ela possui uma beleza que não lhe vale de nada.
Serão estas as razoes que me fazem existir,
Porventura serão diferentes das que não me deixam desistir.
Dou-me com a natureza, e são muitos os pássaros que me invejam.
Vivo os dias que me sobejam e rio-me do azul do céu
Curvo-me perante ele, mas nunca deixo escorregar o meu véu de mariposa.
Repetente na fila do prolongamento da vida. Sem nunca obter uma resposta.
Tento chorar. Procuro me abstrair, não desistir.
Gozar os poucos minutos que me restam.
Sentir os aromas naturais das ervas que me refrescam.
Adoro ver o reflexo de uma borboleta reflectida no charco de água límpida.
Reflexo que me tenta oferecer o beijo da vida
Mas como hei-de o destino alterar?
Mundo louco, que és o meu fascínio, mas tal fascínio não passa de uma fracção de tempo.
Ouço incessantemente o rolar de um tacógrafo que me limita o tempo.
Fiscaliza, e cria as balizas temporais que me avisam.
O meu tempo. Os meus dias. Os meus segundos que voam
São meros curtos batimentos, são os sinais de um fim.
Atravesso a ponte de agapantos, que se cruzam com os lírios.
São exércitos com as costas direitas. Um à frente, um para traz.
É o quincôncio que a natureza estabelece.
Bolbos inchados, 1,2,3. Tentam escapar da terra. 4,5,6. Sou golpeada pela espada que me dita o fim. Acabou a guerra.
De que me serve ser bonita se a minha existência me vomita o tempo
Ar que me abandona, terra que me deixa deitada
Ignorada, ao longo da tua estrada.
Ouço o marchar das formigas. Querem a terra limpar.
Mas ao contrário das árvores, eu simplesmente morro deitada.
Vou sentir a tua falta. Chora o caule que se alimenta pela raiz.
A noite chega. A renovação começa mais uma vez. A natureza inicia novo ciclo.
Viva a natureza. Viva a beleza da mariposa que repousa na minha fantasia.
Verdadeiro soldado desconhecido. Que repousa num túmulo simbólico da imaginação.
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