Estou atrasado e a minha cidade espera-me, cidade onde as águas do Tejo são mágoas e o mar se entrega ao rio.
Mar que se entrega ao rio? Onde é que já se viu.
A minha cidade de casas brancas e roxas ofusca-me com o seu brilho.
Que me cria impulsos e arrependimentos, dá-me música que eu gosto,
O trombone está cansado de tanta música levar, e embala-se nos galhos que lhe faz lembrar eternos espantalhos.
Experimento novas sensações, e nem por isso é esta a imagem que te leva aceitar,
São estas belezas que eu abomino, sinto por vezes quebras de memória
Mas nunca esquecerei o Largo da Princesa onde dei a minha mão e abandonei a solidão
Lembrança de uma torre que me levou a Belém e a Deus ofereço os corações despedaçados das viúvas enegrecidas pelas suas vestes que se torturam e se condenam ao eterno luto
Luto pelos corajosos que partiram. Os mesmos que o velho do Restelo teve a ousadia de duvidar dos actos de bravura.
Coloquei no local onde acaba a terra e começa o mar o monumento em pedra esculpido com figuras ostentando feições geométricas, figuras essas admiradas por gente céptica.
Cepticismo que me dá algum optimismo, cinismo próprio de mim.
Olho com desdém a calçada parcialmente coberta com o manto verde da erva que teima em cimentar a sua junta.
São estas as degradações que tendem a aumentar, aumento que nunca há-de acabar.
Sou um ser urbano que apanha os restos de uma civilização, Mas basta de restos. Agora é a minha vez. Tenho o meu corpo dormente e dou palmadas na minha mão, são movimentos, impulsos que controlados pela minha geração.
Incertezas que lançamos ao mar, e desconfio que as marés são a desculpa que o mar encontrou para me vir visitar.
Tento quebrar a sua força mas como sempre saio a perder, refugio-me nas casas singelas das pessoas pobres, tenho como companhia o tormento de um idoso que conquistou a janela,
Lembrança que lhe lança a lágrima que lhe faz recordar os barcos à vela que ele imagina serem seus.
Mas sente tristeza na lua que não quer voltar, eterno louco que anseia por carinho.
E caminho de pés descalços na areia, pés que se enterraram e me provocam rasteiras matreiras que me atrasam, mas continuo sempre a caminhar na direcção do sonho.
@Bom Norte2010
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