Hoje fui olhar a madrugada e fiquei por cá
Perdi as minhas assas, fico perdido num eterno pranto
Defuntos se tornam as vagas que fustigam o meu rio
E sujos são os meus prantos, tenho o corpo sujo e vivo sem apresentação.
Caído na calçada, os transeuntes passam pelos intervalos do chão onde estou caído
E desviam-se sem justificação, são eternas as minhas mordaças e duros os meus ossos.
Cimento que contempla o meu tormento, varões de aço que me acolhe nas suas nervuras
Por vezes apetece-me ficar deitado eternamente, pois só nesta altura me sinto gente.
A obra nasce e eu desfaço-me, sou fustigado com poemas declamados por um poeta pateta.
Os estrangeiros acotovelam-se para este momento capturar, eterno transparente, mesquinho, miserável, desprezível, repugnante e milhões de adjectivos por adiante.
À minha frente caminha a morte que espera por mim. Por trás de mim chora a viúva carpideira e a nora sonhadora.
O anzol morde o isco que foge dos baldes, as margens do meu rio olha-me de soslaio.
Leve e vagamente o papel que me marca a hora flutua e embate violentamente nas fragas que me oferecem os seus grilhões
O céu desce sobre os meus olhos um belo véu que imagino antes de olhar.
A terra abre-se aos meus pés e finge-se revolta e acolhe-me já morto
E fecha-se ao abandono, as flores encardem-se e simples é o plástico aqui disposto.
Talhão que se encontra marcado com ferro. Valas do inferno, que arde e me deixa sem lar.
Vagueio por entre os humanos que me arruinaram, rendem-se as almas que estremecem à minha passagem.
Sou simplesmente gente. Homem quase morto. Não um rei deposto.
Dispersem o homem está morto. Nada mais há para ver.
É este o meu mundo perfeito? Saio defraudado da minha cidade
@BomNorte2011
Comentários
O título é bastante sugestivo.
O interesse é ler o que nos soa e o que nos sabe bem...
Então que siga a escrita que,depois de publicada já não pode ser apagada.