Hoje percorro a cidade em busca de um lugar para combater a solidão.
Pedra sim. Pedra não.
Tento-as encaixar no chão. Olá chão que tento empedrar.
Procuro e volto a procurar. Mas não sou feliz a encontrar.
Não tenho a sorte, nem a quero ter. Sou um calceteiro por prazer?
Difícil será eu do ser. Poderei o parecer.
Sei que dificilmente terei o que procuro, e nem sempre o que ouço é a verdade.
O martelo esquartela e molda o calcário. Coloco a pedra ao contrário.
Estou chateado. Mas não sei porquê?
Quem é o mestre? Quem é o escravo?
Interrogo mas a resposta não encontro. Acredito e não complico.
A verdade é que nunca pedi para acreditar na realidade, e sei que a realidade por vezes não é a verdade.
Quero descobrir porém a realidade que a vida tem.
Não quero duvidar e por isso acredito.
Sou uma formiga que percorre o seu caminho. Um calceteiro de Lisboa.
Uma ovelha que segue o seu rebanho.
Em Carnide circundo o Coreto com a pedra que eu meto.
Tento apanhar o sol que me enche de cor e chama. A corcunda que o tempo me oferece é o defeito que a vida tem.
Filosofia rara que me faz na vida crer.
Quero ser um alegre cidadão, não tenho medo de me entregar.
Quero atravessar a rua, quero ver a estrada que está a ser alcatroada.
Cuidado que o passeio é o meu território. Premonição de que o mundo estará a enlouquecer
Mentira que me faz sonhar. Mentira que me adora. Verdade nua e crua.
Tanto me adora que fica com uma perna torta. Sou o calceteiro que coloca a pedra torta.
Vou tentar agarrá-la. Vou sonhar com ela, coloco a verdade em seu lugar.
Quem é o mestre? Quem é o escravo?
O tempo o acaba e por vezes é difícil reconhece-lo.
Bom Norte
Comentários
Dói tanto crescer e perceber que o chão empedrado não o foi para nos tornar o caminho mais macio,e que há pedras que ficam salientes quase propositadamente para nos provocar"quedas".