Tenho as minhas pernas para andar. Mas não consigo levar esta minha mensagem.
O papel passa por mim criando elipses, entra no labirinto, perde-se levado pelo vento
A tinta da minha caneta dilui-se nas lágrimas vertidas por mim.
São lágrimas de saudades Água salgada, um rosto de Deus.
O fio-de-prumo marca a prumada para a verticalidade da vida.
Dói sofrer por um amor taxado ao segundo.
Tento escrever uma carta. Mas? A letra (A) dissipou-se.
Difícil será a substituição. B, C. Letras da noite, letras que não precisam de mim. Já a letra A lembra-me as voltas que a vida dá..
Irei oferecer ao envelope um selo.
Selo que estampa o envelope. Mais vale selo que parecê-lo. Será esta a lembrança de quem está longe?
Escrevo a carta, e entrego-a a uma pomba que a irá levar, pomba que esvoaça pela cidade, papo cheio de vaidade.
Lisboa cidade que vagueia pelo infinito
Transporta a carta no seu bico. Pomba cansada, tem uma missão.
Corre, animal cansado, animal frio, recolhe-se dos dias de trovoada com medo de molhar a carta, •Voa eternamente, cruza os céus da minha mente. Voa o pombo sem respirar.
Nunca mais poderei escrever outra carta, desconheço a forma das dormentes palavras. Será que sei desenhar as letras que a vida tem?
Riscos e rabiscos, que a voz me grita. Salada de letras que as minhas mãos teimam a criar.
Percorri as colinas de Lisboa. Até fui confundido com um profeta.
Mas? Perco a carta para o céu, perdido na lama está sem respirar.
Será justo o seu castigo? Pobre pombo que não é ninguém
Serei um rapaz? Serei um homem? Dou um empurrão ao meu corpo que teimava em não andar. Deixo vazio o meu lugar e parto.
Não empato o meu corpo que agonia no entardecer, e pálida está a minha face. Vacilo. Mas a lembrança fica. Onde estará o meu pombo?
A mágoa de quem perde o sonhar. Entrego-me à partida, mas desconheço a sua orientação, sigo os socalcos marcados na poeira, guio-me pelos pássaros que voam ao sol do meio-dia.
Bom Norte
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