Eu
Nasci numa rua com nome de rio.
Foram casas em que a chuva cobria de esperança.
E o meu triste coração deixou-se arrastar pela luz que o fazia brilhar.
Cresci a aprender a viver, vaporizei um perfume que marcou a diferença
Amo a liberdade, falo a verdade, fui uma criança canhota, por vezes triste e quem diria por vezes bem-disposta.
Os genes pintaram-me o cabelo com a cor da espiga, que nunca se deixou apanhar.
Misturou-se e conservou-se. Correu descalço á chuva, e na rua brincou.
Alegres eram os meses que se perdem no calendário.
Comeu limões por laranjas e chupou azedas, esqueceu os doces.
Imaginou tramas sozinho acordado na cama.
Bebi o leite com sabor a café. Das notas de música sempre gostei do Ré.
Mas nunca esquece o rio onde a Mãe ainda mora.
Triste são as vezes em que ele recorda a infância que o ama.
O assoar na manga de uma camisola corada e seca à chuva, estendida em arames presos numa arvore que ainda abana.
Sandália de tira que me marcou o tornozelo, desenho a giz,o jogo da Glória inacabado.
e desafio cães fracos, presos a uma trela, que guardam um quintal que não é o meu.
Adorava poder ainda chorar, mas das lágrimas esqueci-lhe o gosto.
Contento-me com um suspiro. E sofrer é o meu degredo.
Engulo sapos que me oferecem as rugas que me marcam.
E o cabelo cor de espiga deu agora o lugar a uma cor de derrota, e o bairro outrora rio secou as ruas aonde corria.
Agora os vasos de lata e as sandálias de tiras de cabedal, deram lugar a ervas e urtigas.
Mas? Os meus pés continuam a andar descalços.
E eu? Mais nada peço.
E coloco um fim no texto.
Fim.
O Local é o Bairro Padre Cruz em Carnide
E esta é uma canção que se pode encaixar no meu texto
http://www.youtube.com/watch?v=cvrrgRQAjEU&annotation_id=annotation_312363&feature=iv
Bom Norte
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