As dores são infligidas contra ti.
Sofre.
São dores que o trabalho te oferece, dor de parto, dores de quem está farto.
Maria dos olhos castanhos, caminha ofegante pela Rua da Verdade, olhos virados para a lua. Satélite que gira mantendo a sua orbita.
Tento vaguear à vontade pela minha cidade que tenta infligir golpes nos meus rins.
Cansada e refrescada pela brisa do mar, os grãos de areia são confundidos por peixes que lutam contra a maré, mas quem luta sou eu.
Adora olhar cautelosa a madrugada, sabe ler os astros. O tempo ofereceu-lhe uma licenciatura, suporta no dedo anelar o dourado e sujo anel da crucificação. Estudo sem tempo que só lhe ofereceu a fome.
Troco o canudo que me fez subir as escadas da fama. pelo balde que lavo o chão.
Balde que me estraga a alma. São lágrimas ácidas que escorrem pelo meu corpo, brilho dos meus olhos que fica baço no fim.
Os seus seios amamentam a sôfrega família que anseia pela sua chegada.
Crianças de rostos redondos e olhos arregalados pelo espanto da minha chegada.
Vida condenada ao inferno, emoldurada pelo diploma do ácido mortifico que me sufoca a alma.
Escanzelado licenciado que retorna à placenta, esconde-se um corpo dorido, desistindo da vida.
Anónimos são os eternos guerreiros que arregaçavam as mangas, e desafiam a morte.
Fecho as minhas pupilas e tento alterar a rotação da terra.
Tenho o corpo mordido pelas pulgas, mordidas do tempo que coço às escuras..
Sou a Maria dos olhos castanhos que caminha ofegante pela rua, olhos virados para a lua, passando pela rua que não é a sua.
Doutora. Engenheira. Varina. Peixeira. Mas vive tentando tornar a Terra um planeta melhor.
Maria que alimenta os vivos e enterra os mortos. Maria da vida e revolta que passa na minha rua.
Bom Norte
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