Hoje bordo, e a linha é o meu cabelo branco, tapetes não medidos,feito à base de pontos abertos e fechados por mim bordados.
Serapilheira encardida que é lavada à chuva.
Vira a linha e puxa a agulha. Vira a linha e puxa a agulha, parece mais uma melodia.
As gotas de chuva salpicam-me, e alheia ao que se passa ao meu redor esqueço o mundo.
Pi pi pi, chuá teima a chuva cair. Estou cansada do teque teque apressado da sola dos sapatos que batem com rapidez nas pedras da calçada, chuá chuá, teque teque. Estilhaços dos passos a bater nas poças de água.
Estes ruídos que me circundam, de pessoas que passam por mim e num ápice desaparecem completamente stressadas Tenho até pressentimento que hoje vou acabar o meu tapete. Mas? Tenho a certeza de que ele será infinito tenho que lhe bordar todas as cores.
Tenho o tempo que me traz a luz e tenho o chão que me acolhe como tecelã. Bordados loucos, padrões que me fazem desejar a terra.
A cidade acordou cheia de corações insuflados, pobres balões vermelhos que anseiam por um par.
Balões que voam rente ao chão, suspiros de namorados que reparam em mim. Passam e olham para traz. Mas para eles tanto faz.
Sentem um baque no coração? Não. Indiferença que marca a diferença.
Ganho uma vontade repentina de escrever os meus sentimentos. Os remorsos tomam conta de meu íntimo. E o pensamento é o meu namorado.
Vamos escutar o barulho da chuva caindo. Pi pi pi, chuá Do vento soprando. Fuuuuuh. Do mar batendo contra o pontão bum,chuá.
Vou passear mais o pensamento para a praia dos sentimentos.
Estendo o meu tapete na areia, e sonhamos com o mundo que nos acolhe.
Nunca poderei esquecer de que quando terminar o fio de lã, não posso dar nós. Porque os nós de garganta geralmente são secos e as lágrimas rápidas a sair.
Uma música que se encaixa no texto e fotografia
http://www.youtube.com/watch?v=EVjXD0lwEH8&feature=related
Bom Norte
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