Sou um pobre e mutilado suspiro.
Um solstício fraco e perdido.
Tenho o meu quarto virado para o muro que me isola da fera.
Terra enlameada, gente doente que berra ao mundo o sofrimento infligido.
Confesso a minha raiva ao universo, e tento uma cunha para um lugar no céu.
Servem-me chá príncipe bebido numa chávena de porcelana estalada.
Já ganhei o meu lugar no céu?
Não!
Sou um riacho de ácido aonde as carpas nadam já fracas.
Fraga onde o meu pai está preso, enterrado na terra que não existe.
Bato as palmas à fama e desafio a fera que me enerva. Farto de guerreiros, espeto a espada na terra e dou por finda a guerra.
Tusso, e cuspo para uma terra lá longe.
Acto que faz atear um rastilho. Imprudência que me retira o dito lugar no céu.
Perdi o meu lugar no céu?
Sim!
Cancro da mama que ofereço à mulher em troca de um obrigado.
Embalo o drogado e lanço o seu corpo contra o meu.
Pergunto a quem me queira ouvir.
Doçura que deixa o diabético fraco
Conduzo o Mini Cooper que faz o camião TIR desistir.
Já ganhei o meu lugar no céu?
Não!
Pego nos ferros e sou um bandarilheiro e ouço o mundo que se levanta a pedir, espeta-o bem fundo. Faz sofrer o que é teu.
Fui enganado!
Tenho o inferno que me chama.
Sou vaiado por pétalas de rosas murchas que o diabo teima em me oferecer.
Alguém sabe? Se o céu existe mesmo para me servir.
Filho pródigo que pede perdão ao pai.
Viaja como uma presa com medo da fera que o espera .
Despeço o tempo, tomando a tua direcção abandono o inferno e dou entrada no céu.
E pergunto desconfiado? Desconfiando até da minha própria mão.
Já ganhei o meu lugar no céu?
Sim.
Entro a sorrir.
Bom Norte
Uma fotografia de um trabalho de Cláudia Galvão
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Cumpras por própria.Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és.Nada te mude.
Teu intimo destino involuntário
Cumpre alto.Sê teu filho.
««Fernando Pessoa»»