Hoje o meu Tejo alberga embarcações de vulto, barcos que navegam emparelhados na manhã que acordou radiosa.
Transponho com o meu pensamento ambos os lados da sua margem
As casas rasteiras circundadas pela terra batida são agora lembranças de outro tempo.
Agora erguem-se em desalinho. Os cães magros deixaram de vaguear à solta.
Ando e ando e a cidade está brilhante e faz-me sentir um diamante.
No coração desta cidade erguem-se agora palácios de betão. Destroços de antigo templos que partiram em vão.
Hoje a paisagem está deslumbrante. O Céu azul. O último dia de Outono pincela toda a extensão das suas terras com policromia berrante a que o Sol implacável excita os tons.
A Primavera suspira aromas. Hoje será o dia da sua chegada.
E os bandos de gaivotas esvoaçam à beira da água. Tenho necessidade de pigmentar a minha pele, e nunca a esqueço.
A minha face está pálida e necessita de ser banhada pelos raios de sol envergonhados. Abro os meus braços ao dia, entrego-me a ele, sinto que sou um eterno louco.
A minha calçada estende-se ao longo destas radiosas margens do rio, estranha o dia, e ocupa o espaço vago.
O meu coração ama os paralelos de calcário. Recorda os blocos ordinários habilmente talhados, que se transformaram em arte contemporânea, bizarro artista da fé que cria esta bela moldura que tenta a todo o custo encaixilhar o negro asfalto
Ergo-me perante o dia, e galgo os sonhos que tentam desaparecer. Não me deixem sem os raios de Sol! O seu calor torna-se fogo, e a água salgada vaporiza as suas labaredas.
Sou um segredo. Não sou uma criatura embebida no âmbar que o tempo preserva. Mas sou cristalino, e transparente, e o céu é o fundo que me move em frente aos teus olhos.
Sou igual a todos os seres que a cidade transporta no seu regaço. Somos seres em mudança.
Até à Primavera se o Outono o deixar. Direi adeus ao Outono, pois a Primavera quer entrar.
Entra na minha história Primavera! O dia e eu já estamos à tua espera.
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