Desço as escadas, atrasado sinto que o mundo foge de mim.
O metro apita e as suas portas fecham-se perante a minha passividade.
Sou um projecto. Um mero projecto.
A linha amarela delimita o meu futuro.
Passo a passo, segundo a segundo O cais da estação vai se enchendo.
Trauteando ou assobiando os outros humanos projectam sons citadinos que me circundam.
Estou anestesiado com tanta informação. As minhas bochechas incham dando-me um ar de tolo.
Pareço uma panela em ebulição. O meu vómito é dispersado em múltiplas direcções
Vou fazer um hard-reset a toda a informação que me foi oferecida todos estes anos.
Oferecida sem o meu consentimento. Sem ser filtrada e completamente poluída.
Tenho saudades de ter saudades. Tenho saudades do futuro.
Sou um mero projecto. Um gatafunho indecifrável.
Subo a correr as escadas que anteriormente me conduziram ao interior do circular túnel que serpenteia sob a minha cidade.
Os olhares outrora distantes reparam em mim
Reflectida no chão a sombra projecta no pavimento a minha imagem que deixou de ser um projecto.
E persegue incansavelmente as luzes amarelas que criam efeitos destorcidos na minha personagem.
Bom Norte
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